Hoje é dia das crianças. Ontem eu conversava com uma amiga como era diferente nosso mundo. Como a gente foi feliz, resistente, persistente.
Outro dia um garotinho morreu engasgado com um chiclete. Isso me fez pensar em como as crianças de hoje em dia são sensíveis com relação às da minha geração.
A gente pulava na cama de molas da minha mãe com balas "soft" na boca. A bala descia pelo "buraco errado" e o que a gente fazia? Virava de cabeça pra baixo e desentalava.
Hoje as crianças não podem cair e bater a cabeça que já correm pai, mãe, vô, vó, tio, papagaio e periquito ao Pronto Socorro mais próximo. Faz Raio X e Tomografia, fica em observação e toma anti-térmico para prevenir. A gente ficava com um galo gigante, a mãe fazia cruz com a lâmina da faca no lugar da pancada e colocava gelo. No dia seguinte, tava lá a foto na escola com a testa roxa! O galo cantava por uns dias e ficava tudo certo.
As crianças de hoje não andam de bicicleta na rua para não serem atropeladas. Quando eu era criança, a gente desafiava carros e ônibus, apostava "corrida maluca" e quem chegasse primeiro era a Penélope Charmosa.
A gente caía, ralava o joelho ou cortava o pé, a mãe levava no tanque e lavava com sabão em pedra, depois passava no máximo um mercúrio cromo. A pele ficava toda manchada, e depois a gente apostava quem tinha a maior cicatriz. Hoje, o menino tira uma pelezinha do dedo, infecciona e tem que tomar antibiótico.
A gente subia em árvore, andava em pé sobre muros e telhados, empinava pipa, jogava bolinha de gude. Uma vez por ano, a rua era interditada para alguma obra, e lá ia a meninada jogar futebol, vôlei, queimada... meninos contra meninas. Hoje as ruas são interditadas parcialmente, não há mais muros ou telhados, muito menos árvores onde as crianças possam se empoleirar.
Nossa infância era mais feliz, podíamos andar descalços, pular corda e muito mais.
Nossos pais não podiam comprar video games, a gente não tinha celular, não existia internet.
Nossos brinquedos eram círculos de 5 metros de elástico, presos a 4 pernas enquanto outras 2 pernas habilidosas o pulavam cantando musiquinhas que hoje eu nem lembro mais a letra.
Quando não tinha uma corda, pulávamos “um homem bateu à minha porta, e eu abri...” com a mangueira da mãe. Aquele tal de vai-vem que a Angélica fazia propaganda a gente não tinha como comprar... era caro. Então improvisava. Dois fios de corda para varal, uma alça em cada ponta, e no meio fazia um “balão” com 2 metades superiores de uma garrafa pet. Pedaços de isopor e restos de colchas rasgadas viravam lindos sofás e camas para as bonecas, os trapos viravam modelos inspirados nas revistas de moda da mamãe, e tudo que aparecia de material era adaptado para a casinha - eu já era "arteira".
Aliás, quando a gente era criança, refrigerante era só para dia de festa. Aos domingos, só se sobrasse algum no fim do mês. Mc Donnald’s, só em aniversário e dia das crianças. E eu já nem era mais criança quando comecei a comer Big Mac ou Mc Lanche Feliz.
Brincamos de casinha, de boneca, até os 14, 15 anos.
Hoje a infância acaba cedo. As meninas não brincam mais de boneca, se vestem de mulher, passam maquiagem (a gente passava a da mãe, escondida!) que os pais compram para elas, usam sandálias e sapatilhas de salto alto.
As roupas, uma réplica das que suas mães usam. Vão desde calças justas até micro-saias.
As meninas, aos 9 anos, já beijam mais na boca que eu beijei minha vida toda!
Aos 11, muitas delas já são mães (não é exagero, tá? Meu irmão trabalha em poso de saúde, e já viu muita criança de menos de 12 anos grávida - e não eram vítimas de estupro não). Brincam de bonecas com bebês de verdade.
Era tão bom ser criança na nossa época... era tão bom sumir com a bicicleta, voltar encardida, o cabelo molhado de suor ou chuva.
Era tão legal pular em poças de lama, arrebentar as tiras dos chinelos correndo pelo mato, pegar folhinhas de capim para fazer comida para nossas "filhas".
Abrir buracos enormes no quintal de casa tentando achar os restos mortais do cachorro enterrado ali alguns anos antes - e jurar que seria arqueóloga quando crescesse.
A gente não falava palavrão ou respondia a pais e professores - levava logo um tapa no meio da boca que doía por dias (mais na alma que no corpo).
E ai que saísse do castigo. Em vez de uma semana, passava a um mês sem tv.
Haja!
Mas e quem ligava para tv quando tinha tanta coisa para fazer?
Quando passo por grupos de crianças brincando na rua, paro e fico olhando. Me dá saudade de ser daquele tamanho. Me dá vontade de ter logo meus filhos e ensinar para eles tudo o que a gente fazia.
Desenhar no quintal com um giz de lousa aquele velho quadriculado que ia do céu ao inferno, chamado a-ma-re-li-nha... ah, como é bom esse nome.
Como é doce a saudade da infância.
Como é doce ser criança.
E a gente, que reclamava que nada podia, hoje vê que podia tanto.
A gente, que queria ser grande logo para mandar no próprio nariz, recebe ordem o tempo todo, obedece muito mais, e não pode fazer manha. Tem que abaixar a cabeça e dizer "sim, senhor". Porque na vida adulta não tem castigo de 1 semana sem tv.
Tem castigo pior.
Ah, como seria bom uma máquina do tempo.
Como seria bom aquela máquina do filme do Tom Hanks...
Seria demais!!!
E você? Qual sua mais doce lembrança de infâcia?
Resgate essas lembranças, relembre a criança que você foi, ensine uma criança a ser criança. E valorize cada dia a criança que há dentro de você!
PS: Lá vai uma foto da nossa linda infância! Meu irmão e eu ganhamos pintinhos em uma feira de animais. Mamãe mandou ele abaixar para ficar do meu tamanho. Eu não entendi a relação (olha a cor do cabelo...), e resolvi abaixar tb! :D